cemitério dom bosco
O cemitério Dom Bosco é uma necrópole localizada em Perus, e próximo à divisa com a cidade de Caieiras. Ele foi criado em 1971, pelo até então prefeito Paulo Maluf.
Durante o período da ditadura militar, o cemitério foi utilizado para o sepultamento de pessoas mortas pelas forças de segurança do regime. Ele ficou conhecido por abrigar mais de 1000 sepultamentos clandestinos de desaparecidos políticos da década de 1970. Onde foram sepultados em duas valas clandestinas. Nesta época a ditadura militar comandava o país e oprimia adversários políticos e pensadores contrários aos seus ideais.
No local em 1993, a então Prefeita Luiza Erundina inaugurou um memorial em homenagem a essas vítimas.
Nosso grupo teve a oportunidade de conversar com um dos administradores do cemitério que começou a atuar no local no ano de 1976, o senhor conhecido como Toninho, nos conta como foi trabalhar no local, e o momento exato em que ele encontrou as ossadas dos sepultamentos clandestinos.
Ele nos diz ‘’desde do início que eu cheguei em São Paulo, a minha missão era descobrir essa vala, era ajudar os familiares para que achassem os ossos desses estudantes, na época eu era estudante igual eles, mas eles militarem muito mais do que eu’’, ele se orgulha de atualmente ser chamado de Toninho pai dos indigentes.
Toninho nos conta que muitas vezes acabava fazendo serviços que não eram para serem feitos por um administrador, mas que ele sentia que precisava ir além e fazê-los, para que assim pudesse achar respostas para a questão que ele tanto tinha, ‘’aonde os corpos são enterrados?’’
Ele nos conta que os militantes torturados e mortos eram transportados um por um, em um só camburão, e eram escoltados pela polícia, e assim que eles chegavam, ninguém do cemitério poderia entrar ou sair, as ações só eram normalizadas assim que os corpos eram enterrados.
‘’Cemitério da ditadura, cemitério clandestino, eles acabaram fazendo o cemitério sabe para que? Para ocultar os cadáveres dos militantes, dos jovens estudantes que eles perseguiam e caçavam feito animais, pegavam, levavam para as salas herméticas, torturavam até a morte, e depois deles mortos, ainda davam o tiro de misericórdia. Aí vinha como indigente para cá, agora isso aí tudo eu fui coletando, depois eu tive muitas informações dos funcionários da época.’’
A partir desses e outros acontecimentos, Toninho tomava mais cuidado com as suas investigações, mas que apesar disso ele nos conta que recebia diversas ameaças ‘’ não era para eu estar vivo, para eu estar dando essa entrevista para vocês, eu fui ameaçado de morte, não conseguiram me matar, ameaçaram meus filhos, eu tenho um casal de filhos, foi preciso sumir com eles, com a mulher, mas superei por causa dessa força que vocês devem cultivar, sempre estar atento.’’
Um dos grafites no muro do cemitério, que mostram botas de combate militares com sangue, foram feitas para representar o delegado Fleury, um dos mais temidos torturadores na época, ‘’até mais que Ustra’’, nos conta Toninho, detalhando algumas das torturas que eram feitas.
Militantes que eram considerados de alta periculosidade contra a luta da ditadura, quando eram capturados e mortos, eles iam para o cemitério e em sua ficha continha um T enorme, que significava terrorista, e que o corpo daquele militante tinha que ser tratado com uma certa diferença, até na hora de enterrar.
Ele diz que uma maneira dele encontrar os corpos dos militantes, foi através do livro de registros dos indigentes, que mostrava quando o corpo era exumado, mas que no caso de militantes sepultados, não havia indícios de onde os ossos se encontravam. ‘’Eu tô com uma bomba na mão, preciso encontrar esses ossos, investiguei aqui e ali, tanto que as pessoas ficavam bravas comigo.’’ ‘’Foi quando me veio aquela luz, para enterrar essas mil e quinhentas ossadas, sacos de ossos, só pode ter sido uma máquina retroescavadeira, e a máquina só tinha um funcionário que era operador, que sabia operar a máquina. Aí eu falei ‘’eu tenho que colar nele’’ ah eu o tirava do serviço, pra conversar, um dia levei ele pro bar, ele bebeu, até eu bebi e então.... ele me contou’’
A partir desse momento, Toninho se prontificou a procurar as ossadas, ele conta que o processo para encontrá-las demorou um bom tempo, e demandou muitos esforços da parte dele, e as ameaças que sofria eram constantes, mas ele não desistia.
Para perfurar o solo fundo, ele nos conta que usava uma sonda de escavação, e que foi no barranco, que atualmente se encontra a homenagem posta pela então prefeita Erundina, que ele encontrou os corpos, ‘’ Me veio uma luz que me disse, ‘’vai lá ver no barranco’’, até me arrepio ao falar disso, foi aí que quando eu perfurei o solo, e a sonda foi até o fundo, foi aí que eu percebi, não sabia se eu ria ou se chorava, falei ‘’ tá aqui, tá aqui os meninos que lutaram pela democracia e deram a vida em prol dessa causa’’.
Toninho nos contou esse relato com muita emoção, e orgulho da historia que viveu, juntamente com todos aqueles que após encontrar as ossadas, participaram de todo o estudo de identificação dos corpos, divulgação dos acontecimentos, e á aqueles que continuam compartilhando e lutando em prol da democracia.
Dom Bosco Cemetery is a necropolis located in Perus, and close to the border with the city of Caieiras. It was created in 1971 by the then mayor Paulo Maluf.
During the period of military dictatorship, the cemetery was used for the burial of people killed by the regime's security forces. He was known to house over 1,000 clandestine burials of missing politicians from the 1970s. Where they were buried in two clandestine graves. At this time the military dictatorship ruled the country and oppressed political opponents and thinkers contrary to its ideals.
On site in 1993, then Mayor Luiza Erundina inaugurated a memorial in honor of these victims.
Our group had the opportunity to talk to one of the cemetery administrators who started working in the place in 1976, the gentleman known as Toninho, tells us what it was like to work on the site, and the exact moment he found the bones of the burials. clandestine.
He tells us "from the beginning I arrived in São Paulo, my mission was to discover this ditch, to help family members to find the bones of these students, at the time I was a student just like them, but they military much more than me", he is proud to be called Toninho's father of indigents today.
Toninho tells us that he often ended up doing services that were not meant to be done by an administrator, but that he felt he needed to go further and do them so that he could find answers to the question he had so much, "where bodies are buried?"
He tells us that the tortured and killed militants were transported one by one, in a single van, and were escorted by the police, and as soon as they arrived, no one from the cemetery could enter or leave, the actions were only normalized once the bodies were buried.
"Dictatorship cemetery, clandestine cemetery, they ended up making the cemetery know for what? To hide the corpses of the militants, the young students they chased and hunted like animals, they took, took to the airtight rooms, tortured to death, and after them were killed, still fired with mercy. Then I came here as a pauper, now all that I was collecting, then I had a lot of information from the employees of the time.
From these and other events, Toninho was more careful with his investigations, but despite that he tells us that he received several threats '' was not for me to be alive, for me to be giving this interview to you, I was threatened with death , could not kill me, threatened my children, I have a couple of children, had to disappear with them, with the woman, but overcame because of this strength that you must cultivate, always be aware."
One of the graffiti on the cemetery wall showing bloody military combat boots was made to represent Chief Fleury, one of the most feared torturers at the time, "even more than Ustra", Toninho tells us, detailing some of the tortures. that were made.
Militants who were considered to be highly dangerous against the dictatorship's struggle, when they were captured and killed, they went to the cemetery and their record contained a huge T, meaning terrorist, and that the militant's body had to be treated with a certain amount. difference, even in time to bury.
He says one way for him to find the bodies of the militants was through the indigent record book, which showed when the body was exhumed, but that in the case of buried militants, there was no clue where the bones were. "I have a bomb in my hand, I need to find these bones, I investigated here and there, so much so that people got mad at me." "That's when that light came to me to bury these fifteen hundred bony bags of bones, it could only have been a backhoe, and the machine had only one operator employee who knew how to operate the machine. Then I said eu "I have to stick it’ ’ah I took him off duty, to talk, one day I took him to the bar, he drank, I even drank and then... he told me"
From that moment, Toninho offered to look for the bones, he says that the process of finding them took a long time, and required a lot of efforts on his part, and the threats he suffered were constant, but he would not give up.
To pierce the deep ground, he tells us that he was using a digging rig, and that it is in the ravine that today is the tribute put by then Mayor Erundina, that he found the bodies, "A light came to me that told me", go see it in the ravine '', until I shudder to talk about it, that's when I drilled the ground, and the probe went to the bottom, that's when I realized, I didn't know if I laughed or cried, I said "It's here, here are the boys who fought for democracy and gave their lives for this cause."
Toninho told us this story with great emotion, and pride in the history he lived, along with all those who after finding the bones, participated in the whole study of body identification, dissemination of events, and those who continue to share and fight for the sake of it. of democracy.
Escrito por Amanda Cabral, traduzido por Amanda Cabral e Gianluca Caponi